Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. (Mateus 5:13)
No sermão do monte Jesus detalha algumas características de um servo do reino de Deus, dentre elas, o servo deve ser o sal da terra (mundo). Mas por que sal?
O sal já na época de Cristo era substância preciosa, valia seu peso em ouro, daí porque os romanos pagavam em sal parte da remuneração dos soldados, o salário, que deriva do latim salarium (significa “pagamento de sal” ou “pelo sal”).
O sal também tem a conotação de pureza, advinda de sua brancura e da reflexividade dos raios solares (em determinadas épocas do ano, o Salar de Uyuni, na Bolívia, torna-se o maior espelho natural do mundo). O crente deve ser referencial de pureza, refletindo a luz divina diariamente em sua vida, mas, a exemplo do sal marinho que sofre um processo químico para sua obtenção, também o crente apenas será sal, após um processo de santificação (1Pedro 1:13-16).
No mundo que vivemos impera o relativismo ético e o afrouxamento das exigências morais. Não há mais absolutos sólidos, nem limites claros entre certo e errado, entre verdade e mentira. Essa fluidez perpassa as relações sociais, econômicas, políticas e pessoais, sendo caracterizada pelo filósofo Zygmunt Bauman como “sociedade ou modernidade líquida”. Para este influente pensador, ateu, vivemos também o período do “amor líquido”, caracterizado pelo distanciamento humano, pela fragilidade nos laços sociais e pela falta de iniciativa na construção de relações pessoais duradouros, uma vez que as pessoas buscam relacionar-se apenas para fins de satisfação, como quem consome um determinado objeto.
Nesse cenário movediço, os crentes são convocados por Jesus a levarem uma vida pura e imaculada, de inconformismo com as coisas do mundo (Romanos 12:2), posto que “não é o ambiente que faz o crente, mas o contrário, é o crente que influencia o que o cerca” (LOPES, 2004. p. 64).
O projeto de Deus é que sejamos crentes puros e iluminados numa época e num mundo caídos, em grande parte entregues ao pecado (para saber mais sobre os propósitos de Deus para sua vida veja: https://www.ipgii.org.br/afinal-de-contas-por-que-estou-aqui/).
Indo além, o sal relaciona-se com a ideia de preservação. Aliás, antes da refrigeração, o salgamento era uma das poucas formas de conservação dos alimentos, notadamente da carne, evitando ou retardando seu apodrecimento.
O mundo apodrecido não pode impedir o avanço de sua deterioração moral, a corrupção social só poderá ser interrompida ou retardada pelo sal contido na igreja de Cristo, usada como instrumento de Deus. “A igreja é um purificador moral num mundo que se desintegra. O crente precisa fazer diferença na empresa em que trabalha, no sentido de estabelecer um padrão ético absoluto. Na sala de aula, o crente deve ser um elemento inibidor de conversas e atitudes levianas. No ambiente familiar, ele deve ser um freio ao pecado” (LOPES, 2004. p. 65).
Por fim, uma das principais qualidades do sal é dar sabor, temperar. Sem sal a comida é insípida, sem graça e insignificante. O mesmo ocorre com uma vida sem Cristo. O Homem sem Cristo vive como escravo do pecado, com o coração vazio, propício à instalação da sufocante angústia, da estranguladora ansiedade e do medo paralisante.
A presença dos filhos de Deus deve trazer esperança e um exemplo sólido de vida àqueles que estão desiludidos e perdidos nos falsos encantos deste mundo. Para tanto, a igreja de Cristo deve permear a sociedade. Nosso lugar não é no saleiro; somos sal da terra! Não somos do mundo, mas estando nele devemos ser e fazer a diferença (João 17: 15-23).
Assim, o crente deve desempenhar o seu papel adequadamente. A função do cristão é estar presente na sociedade como sal da terra, sem perder sua essência de sal.O cristão deve empenhar-se no tempero exato, nem demais que o torne intragável e estéril, nem de menos, que o torne-se insípido e ineficaz.
Jesus foi sal puríssimo e precioso que influenciou e transformou o ambiente que o rodeava. Sem Jesus não haveria Cristianismo. Assim, como seguidores do exemplo de Cristo, também devemos viver e agir para mudar o meio no qual estamos inseridos. Nosso papel não é reclamar da podridão à nossa volta, mas interferir, transformando e temperando o cenário que nos cerca, para tanto é importante uma autorreflexão: Eu sou sal da terra? De qual tipo?
Por Arthur Henrique Tunes Sacco
- *LOPES, Hernandes Dias. O melhor de Deus para sua vida. Belo Horizonte: Betânia, 2004. V.2.