É sabido que a experiência de Isaías decorre daquilo que os seus olhos viram. O profeta viu o Senhor, viu o trono e viu a adoração numa esfera encharcada pela gloriosa santidade daquele que é três vezes santo (Is 6. 1-4). Veja como a Escritura registra o impacto daquilo que foi visto: “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido!” (Is 6. 5). Agora, o profeta vê sua culpa.
Diante da majestosa santidade do Senhor, agora o profeta está cônscio da sua condição de pecador. Nada é mais confrontador do que isso. Sua indignidade fica patente, sua impureza fica escancarada. Diante da visão grandiosa da santidade de Deus, o profeta entra em pânico, o pavor recai sobre sua alma. De fato, ele pensa que vai morrer. Por isso, o grito: “ai de mim! Estou perdido!”.
Tudo o que aconteceu serviu para confrontar o profeta. Tudo o que Isaías viu fez com que ele visse a si mesmo. Tudo o que conheceu fez com que conhecesse a si mesmo. A visão de Deus na sua santidade produziu no profeta uma consciência da sua indignidade e da sua impureza perante aquele que é puro de olhos.
O apóstolo Pedro passou por experiência semelhante. Após a pesca maravilhosa também foi impactado com a presença do Senhor, de sorte que até fez um pedido: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5. 8).
O que agrava a situação do profeta é que ele é um homem pecador vivendo numa sociedade pecadora. Por isso, Isaías diz: “eu sou um pecador e vivo no meio de um povo pecador”. Note que a Bíblia não apresenta uma visão romântica da natureza humana, pelo contrário, mostra que o homem é mesmo pecador.
O que os Serafins estavam proferindo com os lábios, não podia ser feito pelo profeta. Os lábios do profeta estavam inadequados para o exercício da declaração da santidade do Senhor.
Todavia, vamos entender uma coisa aqui: os lábios proferem o que tem dentro do coração. O coração é a sede do que sai da nossa boca. O problema que é visto por intermédio da boca é o problema da fonte. O problema é mais profundo. Precisamos entender que os lábios apenas materializam o que se encontra dentro do coração. “Lábios impuros são consequência de um coração impuro” (Warren W. Wiersbe). A grande questão é a fonte geradora de impureza, denominada de coração.
Sobre o assunto, assim diz a Escritura: “Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce” (Tg 3. 11, 12). Noutro lugar, o Senhor Jesus, diz: “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mt 12. 33-35).
Portanto, os nossos lábios apenas revelam a impureza de algo mais profundo. O que você fala é um reflexo do seu coração. O que você tem falado mostra como anda o porão do seu coração. A propósito, quais são as canções que você tem entoado? O que você tem falado?
Irmãos, a contemplação do Deus santo faz com que tenhamos convicção real do nosso pecado. Ninguém que tenha compreendido a santidade de Deus vive da mesma forma. A visão do Deus santo causa pavor. A visão do Deus santo mexeu com profeta. A compreensão da santidade absoluta de Deus produz efeitos na compreensão da nossa vida pessoal e comunitária. Veja os efeitos:
Primeiro, a visão do Deus santo afeta a visão que temos de nós mesmos (Is 6. 5). A passagem frisa a condição pessoal do profeta. Uma visão introspectiva. Assim que vemos a Deus somos obrigados a olhar para a nossa situação em relação ao Senhor.
Segundo, a visão do Deus santo afeta a visão que temos da coletividade (Is 6. 5). A passagem frisa a condição da sociedade. Uma visão social também é pontuada aqui. Funciona assim: primeiro eu, depois os outros.
Apenas quem consegue ver o Senhor, conseguirá ver a si mesmo. A visão de quem Deus é faz com que eu tenha uma visão de quem eu sou. Quanto mais conhecemos o Senhor, mais conhecemos nós mesmos.
Conhecer o poder do Senhor mostra o quão fracos somos, conhecer sua grandeza mostra o quão pequenos somos e conhecer a santidade do Senhor mostra o quão pecadores somos.
Portanto, os Serafins que adoram ao Senhor dizendo: “Santo, santo, santo é o SENHOR dos exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6. 3), não ousam olhar a face do Senhor, porque se sentem indignos. Precisamos entender que santidade do Senhor é infimamente superior a santidade dos serafins. O Senhor é criador, os serafins são criaturas.
Sendo assim, a santidade do Senhor confronta tanto o profeta quanto o povo. A santidade de Deus é como um raio-X que lança luz no porão escuro do nosso coração. Ela revela a podridão do íntimo do nosso ser. Saiba que Deus é santo e tremendo. Sendo assim, cale-se diante dele toda terra. Reconheça sua culpa agora mesmo para que seja contemplado com o perdão do Senhor Deus.
Por: Rev. Fábio Henrique de Jesus Caetano.
Pastor da IPGII – DF.