Alguém disse que Deus tem dois livros: o primeiro, a natureza ou a vasta criação; o segundo, a Bíblia ou a Sagrada Escritura. Noutra linguagem, Deus tem duas fontes principais de informação de si mesmo. Uma chamamos de revelação natural, a outra de revelação especial.
Portanto, a revelação pela qual Deus fala, a qual Ele se dá a conhecer, possui duas classificações:
A primeira é a revelação natural. Nesta temos a autorrevelação de Deus por meio da natureza, por intermédio da qual todo os seres humanos podem ler. Calvino disse que o mundo é o teatro da glória de Deus.
A segunda é a revelação especial. Nesta temos a autorrevelação de Deus por meio da Escritura, por intermédio nem todos conseguem ler.
Para compreender a doutrina da revelação natural precisamos conhecer sua base bíblica. No Antigo Testamento ela pode ser encontrada no Salmo 19. Veja o que diz:
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (Sl19. 1-4).
A base dessa doutrina também é facilmente encontrada no Novo Testamento. A passagem clássica é encontrada na Carta de Paulo aos Romanos. Veja o que diz a Escritura:
“[…] porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis […]” (Rm 1. 19, 20).
Mas, afinal, o que é revelação natural? Revelação NATURAL é a revelação que Deus faz de si mesmo por meio da criação. Outra pergunta: Por que revelação natural? A revelação natural é chamada assim porque acontece por intermédio da natureza ou criação como temos demonstrado.
Na revelação natural Deus revela a sua bondade, a sua sabedoria, o seu poder e a sua criatividade, dentre outros atributos. Imagine um casal de namorado à beira da praia ao entardecer. Ali observa o movimento do mar e o barulho das ondas. A seguir completa o pôr do sol e o aparecimento da lua cheia. Naquele cenário paradisíaco, o casal fica maravilhado e exposto ao conhecimento de Deus por meio da criação / natureza.
Além disso, a revelação natural também é chamada de revelação geral. Por que é chamada de revelação geral? Por causa do seu alcance. A revelação natural alcança todos os seres humanos (Sl 19. 1-4). Note a extensão do alcance da revelação natural: “até aos confins do mundo”. A revelação natural é o sermão universal de Deus.
Outro exemplo interessante é o labor do biólogo, que lidando com a complexidade do organismo, também fica exposto ao conhecimento de Deus, porque em toda vasta criação encontramos as digitais do Criador, tanto na macro criação quanto na micro criação.
Ainda cito os nossos ipês aqui no Distrito Federal, que também demonstram a bondade do Criador. São ipês rosa, branco e amarelo, também neles encontramos o DNA do Criador. Na estação própria suas flores desabrocham com sua beleza e suas cores, e sua resistência testemunha de modo eloquente a existência do Criador.
Logo, na criação encontra-se a impressão digital do criador. Na revelação natural temos seu conteúdo: poder, sabedoria, bondade, criatividade, dentre outras qualidades do Criador.
Porém, a despeito de tudo que foi dito, o seu propósito definido traz também sua limitação. O seu propósito tem limite, não de alcance, mas de finalidade, pois, embora revele que existe o Deus Criador, entretanto, não o revela como Deus redentor.
Por fim, concluímos dizendo que, buscando um paralelo para o entendimento de finalidade e limite de papel, encontramos a lei. É sabido que a lei revela a vontade de Deus. Porém, pergunto: a lei pode salvar alguém? A resposta é não.
Da mesma forma, a revelação natural serve, assim como a lei, apenas para fazer com que os homens sejam declarados culpados, não justos. Perante a revelação natural os homens são tidos como indesculpáveis. Mas, não podem chegar aquele conhecimento de Deus como o Deus Redentor. O que nos prepara para a próxima reflexão – revelação especial.
Por: Rev. Fabio Henrique de Jesus Caetano.
Pastor da IPGII – DF.