De acordo com o ensino de Jesus, Judas foi escolhido sim, porém não para a salvação, mas, para se cumprir as Escrituras. Analisemos alguns textos bíblicos a fim de recebermos instrução genuína das Escrituras Sagradas. Comecemos esse exame, de forma sucinta, a partir do Evangelho de Jesus Cristo, conforme o registro do evangelista Lucas.
Lucas é o Evangelista que mais fala sobre a vida de oração do Salvador. É Ele quem registra que Jesus antes de escolher os doze, “passou a noite orando a Deus” (Lc 6. 12) e mais: diz o texto que “quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos” (Lc 6. 12). É importante destacar que a luz desse versículo, havia um número de discípulos que excedia aos doze.
Todavia, quando Jesus os chamou, escolheu apenas doze, dentre os quais se encontrava Judas Iscariotes (Lc 6. 12). Seria isso obra do acaso? Ou obra do destino? Ou Judas foi escolhido por conta de um plano mais elevado? Estaria Jesus lançando sorte sobre Judas, ou podemos afirmar que a mão da providência o capturou para cumprir um plano divino?
Com certeza, qualquer pessoa que examinar as Escrituras “desarmada”, chegará à conclusão e responderá afirmativamente que Judas foi escolhido, mas, não para a salvação e sim para a condenação. Judas era um predestinado sim. Deus o escolheu para compor o grupo dos doze, entretanto, ele não foi escolhido para ser redimido. Desde o início, o Senhor Jesus sabia quem era Judas, mas, mesmo assim, não o baniu do meio dos doze, antes o conservou no meio deles, a fim de cumprir o propósito divino. Deus se serviu de Judas para cumprir a profecia (At 1. 16). Aliás, é impressionante que a escolha tenha ocorrido debaixo de oração. Jesus orou a noite inteira antes de escolhê-lo.
No Evangelho de Jesus Cristo, capítulo 6, segundo o relato do evangelista João, o Senhor pregou uma mensagem duríssima. Daí, a Escritura relata a reação de alguns discípulos da seguinte forma: “Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo 6. 60). Jesus então faz algumas perguntas: “Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava?” (Jo 6. 61, 62).
Após isto Ele conclui dizendo: “Contudo, há descrente entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que criam e quem o havia de trair. E prosseguiu: por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai, não lhe for concedido” (J 6. 64, 65). Jesus termina esse bloco com as seguintes palavras: “Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo” (Jo 6. 70). Logo, João afirma que Jesus se referia “a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era quem estava para traí-lo, sendo um dos doze” (Jo 6. 71).
Jesus sabia que Judas seria o traidor (Jo 13. 11). O Senhor sempre soube quem eram os crentes e os descrentes. Ele sabia que Judas fazia parte daqueles que jamais creriam, daqueles que não estavam limpos, nem nunca ficariam purificados (Jo 13. 10), porque a limpeza da qual Jesus falou não era uma obra fruto da ação humana, mas divina. Porém, no capítulo 13 de João, Jesus deixou-nos um legado precioso sobre humildade e serviço. Com isso, ele ensinou que devemos imitá-lo. Entretanto, a sua instrução, veio acompanhada de admoestação (Jo 13. 14-17).
Embora a palavra fosse dura, ela não era para todos. Jesus disse: “Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar” (Jo 13. 18). Jesus faz uma citação do texto de salmo 41.9. Essa porção das Escrituras é deveras salutar para a compreensão de tudo que foi dito até aqui. Note a seguinte expressão: “eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura”. Jesus conhecia Judas, mesmo assim o escolheu.
Logo, podemos afirmar que Judas Iscariotes fazia parte de uma faceta da predestinação. Dos doze escolhidos apenas Judas se perdeu, afirmam as Escrituras. Na oração sacerdotal, Jesus orou dizendo: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegia-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura” (Jo 17. 12).
A predestinação é como um robusto tronco com dois grandes galhos, para explicar que, Deus escolheu alguns para a salvação em Cristo e reprovou os demais homens. A dupla predestinação é sem dúvida alguma, uma doutrina bíblica. Ela encontra amparo em toda a Escritura. Sendo assim, precisamos examinar toda Bíblia para pregar todo o desígnio de Deus.
Precisamos combater o “evangelho antropocêntrico”, porque trata-se de outro evangelho (Gl 1. 8). Na verdade, negar a doutrina da eleição incondicional, assim como deixar de ensinar a reprovação, é o mesmo que abraçar uma religião humanista, uma religião de apenas um olho, porque olha numa única direção. Deixar de ensinar à luz das Escrituras a dupla predestinação é o mesmo que abraçar o evangelho antropocêntrico, o qual coloca o homem no centro. Precisamos deixar Deus ser Deus.
Por: Rev. Fabio Henrique de Jesus Caetano.
Pastor da IPGII – DF.